Na manhã do dia 23 de
março, a Unidade Força Feminina participou de uma formação sobre a descriminalização do aborto: uma questão de
Saúde Pública e de Direitos Humanos. Este tema é de suma importância e
contou com a participação da Doutora Greice Menezes – Médica Sanitarista, do
MUSA (Programa de Estudos e Pesquisas de Gênero...), do ISC (Instituto de Saúde
Coletiva), Coordenadora da GravSus–NE e UFBA (Universidade Federal da Bahia) e tem
uma longa trajetória de estudos e pesquisas nessa área.
Segundo a Dra. Greice Menezes a questão do aborto está posta em pauta e precisa
ser discutida, pois é uma das maiores causas da morte de mulheres, sobretudo
entre as negras, pobres e jovens, chegando a triste realidade de a cada três
mulheres, uma morre por aborto. Segundo as pesquisas realizadas, afirma Dr.
Greice, “é a terceira causa de morte materna no Brasil e em Salvador é a
primeira”, índices alarmantes quando comparado com a taxa aceitável da OMS –
Organização Mundial de Saúde, que equivale a óbito de 10 por 100 mil nascidos
vivos.
Um recente estudo realizado
pelo MUSA em algumas cidades do Nordeste, como Salvador, Recife e São Luiz, apresentou índices de óbito de mulheres após realização de
abortos que preocupam, principalmente por considerar que a maioria dos mesmos
são realizados de forma clandestina, sem devidos cuidados médicos que ocasionam
em complicações como infecções generalizadas. Os
estudos buscaram aprofundamento da análise da escolaridade como condicionante
que impulsiona na realização de abortos, mostrando a forte ligação entre a
prática e o acesso a educação. Três grupos serviram como base de análise,
relacionando a relação mãe x filha. Quando mães e filhas tinham escolarização
até o fundamental incompleto os dados de gravidez indesejada e aborto foram
maiores, chegando a 60%, contrário aos índices onde mães e filhas possuem nível
superior. Tomar como partida esse eixo de análise, permite desconstruir
conceitos que descaracterizam o fator social da realização de abortos no país.
As
pesquisas ainda apontam que em países onde a legislação permite a realização de
abortos em algumas condições, o número reduziu. Claro que nesses países há um
avanço maior na educação, já que com o aumento da escolaridade decresce a
realização de abortos.
Muito
mais do que discutir: sou contra ou a favor do aborto, se faz imprescindível
discutir a heterogeneidade das situações como desigualdades de classe, raça,
geração e gênero. Os
legisladores e profissionais da área de saúde precisam discutir mais o tema e
encarar o aborto como um grave problema de Saúde Pública, com intrínseca
relação em acesso a educação, lazer e cultura.
A precariedade das condições
sociais que grande parte da população brasileira vive, deve ser um ponto de
partida para proposições de políticas publicas na área da saúde e da educação
como mote incentivador no enfrentamento desse problema que matam muitas
mulheres e que apresentam outras questões como: qualidade de atendimento nos
serviços públicos do país.
Drª Greice concluiu a apresentação colocando-se à
disposição para outros momentos formativos e nos animou, como “profissionais
que adotam posturas éticas em nosso trabalho com as mulheres, a manter o debate
aberto”.
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