terça-feira, 30 de maio de 2017

Violência obstétrica é debatida pela Defensoria Pública

Seminário aconteceu nesta segunda-feira, 29, na Escola Superior



O sonho de ter o segundo filho se tornou um trauma na vida da pesquisadora Fernanda Queirós, 38 anos, após sofrer aborto retido e buscar atendimento no Hospital Português. Soteropolitana, Fernanda que atualmente mora nos Estados Unidos e estava em Salvador a trabalho, relatou nesta segunda-feira, 29, durante o seminário promovido pela Defensoria Pública do Estado da Bahia – DPE/BA, ter sido vítima de violência obstétrica por parte dos médicos e enfermeiros que a atenderam na noite do dia 24 de maio.

Com sangramento, Fernanda se dirigiu por volta das 22 horas com uma amiga até a emergência do Hospital Português. De acordo com o seu relato, o médico que realizou a ultrassonografia a tratou de forma extremamente ríspida: “Ele não me olhou nos olhos, não me deu boa noite, não falou comigo de forma alguma. Pensei que ele estava agindo daquela forma bruta pelo horário e por estar cansado. O que me veio à cabeça foi de não confrontar para que ele não deixasse de realizar o exame”, contou Fernanda.

O destrato no atendimento continuou durante o exame, de acordo com o contado pela pesquisadora. “Ele disse que pelo que via no exame o bebê estava com 8 semanas, sem batimentos cardíacos e que era um abortamento.
Isso tudo sem me olhar em nenhum momento”. Ainda de acordo com Fernanda, uma médica da mesma unidade hospitalar ao ler o resultado do exame também não deu tratamento humanizado. “Ela também não expressou nenhuma empatia, nenhum acolhimento. Falou que tinha que fazer a curetagem para retirar o restante do material, mas sem dar maiores explicações. Tentei explicar que não moro aqui, que meu marido não estava comigo no Brasil e então perguntei quais eram os riscos do procedimento, que era algo que ela deveria ter me dito”.

Somente no dia seguinte, Fernanda foi alertada pela irmã que o que tinha acontecido foi um episódio de violência obstétrica. “Por isso, vim aqui hoje no seminário. Para me informar quais são as medidas judiciais cabíveis para o caso”, acrescentou ela.

A violência obstétrica que pode ocorrer tanto na gestação, como no parto, pós-parto ou em situações de abortamento, é o desrespeito à mulher, seu corpo e seus processos reprodutivos. Isso acontece através de tratamento desumano, transformação de processos naturais do parto em doença ou abuso de medicalização, negando às mulheres a possibilidade de decidir sobre seus corpos. Além da mulher, a violência obstétrica pode ocorrer com o bebê e com seus familiares, podendo causar danos físicos, psicológicos e sexuais.

“É um tema muito difícil de ser trabalhado até mesmo pelas instituições públicas. Por isso, o seminário é importante para colhermos experiências de quem já trata do assunto e temos a pretensão arrojada de construir com apoio dos participantes um material informativo”, disse a diretora da Escola Superior da Defensoria Pública – ESDEP, Firmiane Venâncio. Para a subcoordenadora da Especializada de Proteção aos Direitos Humanos, Eva Rodrigues, o evento será fundamental para que se consigam avanços nas questões referentes ao assunto.

A diretora jurídica da ONG Artemis, Ilka Teodoro, fez um importante alerta em relação a saúde da mulher: “Existem diversos estudos que comprovam que a mulher adoece mais do que o homem. Ou seja, o risco de morbidade da mulher é muito maior. Apesar da mulher viver mais tempo do que o homem, a mulher vive mais tempo doente. E isso se dá por uma série de fatores sociais. Trabalhamos muito mais, sofremos mais preconceito, somos mais exigidas no ambiente de trabalho, entre outras coisas”.

Coordenadora do Núcleo Especializado de Promoção e Defesa dos Direitos da Mulher da Defensoria Pública de São Paulo, a defensora pública Ana Rita Prata destacou a forma como a instituição iniciou a atuar na área. “Elaboramos material informativo com linguagem acessível para que as mulheres entendam os seus direitos e possam exigi-los. Promovemos também capacitações para que os servidores da Defensoria detectem essa demanda que pode chegar de forma indireta”, explicou Prata.

MATERNIDADES PÚBLICAS

A coordenadora de Enfermagem do Centro de Parto Normal Marieta de Souza Pereira, localizado no Centro Espírita Mansão do Caminho, Maria Suzana Montenegro apresentou o trabalho realizado pela organização do Centro. “Temos como princípio a assistência humanizada ao parto, voltada para satisfazer os interesses da mulher e da família”, disse.
Localizada à Baixa de Quintas, a Maternidade Tsylla Balbino foi apresentada pela diretora geral, Rita Calfa. A unidade hospitalar conta com especialidades de ginecologia clínica e cirúrgica, obstetrícia clínica e cirúrgica, neonatologia e unidade intermediária neonatal. Em nível ambulatorial, oferece consultas de pré-natal a gestantes adolescentes, gestantes de risco habitual, médio e alto risco, consulta de ginecologia, entre outros.

CAMPANHA DE ENFRENTAMENTO

Com o objetivo de construir um material com uma linguagem mais acessível, as defensoras públicas Viviane Luchini e Roberta Braga e o defensor público Rodrigo Assis, atuantes no Núcleo de Defesa da Mulher da Defensoria Pública da Bahia, contaram com a colaboração dos participantes e juntos construíram o conteúdo do material informativo que será utilizado na campanha de enfrentamento à violência obstétrica.





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Fonte: Defensoria Pública do Estado da Bahia / Força Feminina

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